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Dr. André Molina - Melanoma e Carcinoma Basocelular

Cirurgia Oncológica - Oncologia Cutânea

Tratamento do Melanoma

O melanoma é uma forma de câncer de pele que se origina nos melanócitos, as células responsáveis pela produção de melanina, o pigmento que dá cor à pele. Embora seja menos comum do que outros tipos de câncer de pele, como o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular, o melanoma é reconhecido pela sua maior agressividade e potencial de metástase, o que o torna a forma mais letal de câncer cutâneo. A compreensão de sua epidemiologia, dos fatores que contribuem para o seu desenvolvimento e das abordagens terapêuticas é fundamental para a prevenção, o diagnóstico precoce e o manejo eficaz da doença.

Incidência e Epidemiologia

A incidência do melanoma tem apresentado uma tendência de crescimento em diversas partes do mundo, refletindo mudanças nos hábitos de exposição solar e uma maior expectativa de vida.

Para o triênio de 2023 a 2025, o INCA estimou cerca de 8.980 novos casos de melanoma por ano no país, o que corresponde a um risco de 4,13 por 100 mil habitantes. Essa estimativa inclui 4.640 casos em homens e 4.340 em mulheres. É importante notar que a distribuição da incidência não é homogênea no território nacional, sendo as regiões Sul e Sudeste as que apresentam as maiores taxas, o que está associado à maior concentração de populações com ascendência europeia e, consequentemente, fototipos de pele mais claros.

Globalmente, a tendência de aumento é ainda mais acentuada. Projeções indicam que o número de casos anuais de melanoma no mundo poderá saltar de 325 mil em 2020 para cerca de 510 mil em 2040, representando um aumento projetado de 57%. Tais dados reforçam a necessidade de campanhas de conscientização e de estratégias de saúde pública focadas na prevenção primária.

Fatores de Risco

O desenvolvimento do melanoma é multifatorial, envolvendo uma complexa interação entre predisposição genética e fatores ambientais. O principal fator de risco modificável é a exposição à radiação ultravioleta (UV).

Exposição UV e Histórico de Queimaduras

A exposição à radiação ultravioleta (UV), proveniente do sol e de fontes artificiais como câmaras de bronzeamento, é o fator de risco mais significativo para a maioria dos melanomas. A exposição intermitente e intensa, que resulta em queimaduras solares graves (especialmente aquelas com bolhas e ocorridas na infância e adolescência), aumenta drasticamente o risco de desenvolvimento da doença ao longo da vida. O uso de câmaras de bronzeamento artificial é classificado como carcinógeno humano e está fortemente correlacionado ao aumento da incidência de melanoma.

Fatores Genéticos e Fenotípicos

A predisposição genética e as características físicas do indivíduo desempenham um papel crucial:

  • Fototipo de Pele: Pessoas com pele clara, que se queimam facilmente e bronzeiam pouco (fototipos I e II), além de indivíduos com olhos azuis ou verdes e cabelos loiros ou ruivos, possuem um risco significativamente maior.
  • Nevos (Pintas) Atípicos ou Múltiplos: A presença de um grande número de nevos comuns (geralmente mais de 50) ou de nevos atípicos (displásicos) é um marcador de risco elevado.
  • Histórico Pessoal e Familiar: Indivíduos que já tiveram melanoma ou outros cânceres de pele, ou aqueles com histórico familiar da doença (parentes de primeiro grau), possuem um risco aumentado, sugerindo uma base genética para a susceptibilidade.

Outros fatores incluem a presença de nevos congênitos gigantes e a imunossupressão.

Estadiamento Clínico (EC) do Melanoma

O estadiamento do melanoma é um processo crucial que define a extensão da doença no organismo, orientando as decisões terapêuticas e fornecendo informações prognósticas. O sistema mais utilizado é o TNM (Tumor, Linfonodo, Metástase) da American Joint Committee on Cancer (AJCC), que classifica a doença em Estágios Clínicos (EC) de I a IV.

O estadiamento baseia-se em três características principais do tumor primário e da doença sistêmica:

  1. Espessura de Breslow (T): Medida da profundidade do tumor em milímetros. Tumores mais espessos (T) estão associados a um pior prognóstico.
  2. Ulceração: Presença de ruptura na pele sobre o tumor. A ulceração é um indicador de maior agressividade.
  3. Acometimento Linfonodal (N) e Metástase à Distância (M): Avaliação se o câncer se espalhou para os gânglios linfáticos regionais ou para órgãos distantes.
Estágio Clínico (EC)Extensão da DoençaCaracterísticas Principais
EC IDoença localizada (Melanoma fino)Tumor primário fino (geralmente < 1,0 mm) ou com espessura intermediária, sem ulceração e sem disseminação para linfonodos ou órgãos distantes.
EC IIDoença localizada (Melanoma espesso)Tumor primário mais espesso (geralmente > 1,0 mm) ou com ulceração, mas ainda restrito ao local de origem, sem disseminação para linfonodos ou órgãos distantes.
EC IIIDoença Loco RegionalO tumor primário se espalhou para os gânglios linfáticos regionais (linfonodos) ou apresenta metástases de trânsito/satélite (lesões cutâneas ou subcutâneas entre o tumor primário e os linfonodos), mas não há metástase à distância.
EC IVDoença Generalizada (Sistêmica)Presença de metástase à distância (M), ou seja, o câncer se espalhou para órgãos internos como pulmão, cérebro, fígado ou linfonodos distantes.

Tratamento

O tratamento do melanoma é altamente individualizado e depende fundamentalmente do estágio da doença, mas também de fatores como o estado geral de saúde do paciente e a presença de mutações genéticas específicas no tumor (ex: mutação BRAF). As abordagens podem ser divididas em tratamento cirúrgico (local) e tratamento clínico (sistêmico).

Tratamento Cirúrgico

O tratamento cirúrgico é a espinha dorsal do manejo do melanoma, especialmente nos estágios iniciais.

  • Excisão Ampla: É o procedimento padrão para o tumor primário. Consiste na remoção do tumor com uma margem de segurança de pele saudável ao redor. A largura dessa margem é determinada pela espessura de Breslow do tumor.
  • Biópsia do Linfonodo Sentinela (BLS): É um procedimento diagnóstico e prognóstico que pode ser recomendado para melanomas em Estágios I e II com risco de disseminação. Se a BLS for positiva (células cancerosas encontradas), o paciente passa a ser considerado estágio clínico lll e outros tratamentos modernos podem ser utilizados.
  • Dissecção Linfonodal: Remoção de todos os gânglios linfáticos de uma região específica, realizada quando há evidência de envolvimento linfonodal, sendo o tratamento padrão para a componente loco regional do Estágio III, porém devido a novos estudos e tecnologias, atualmente,houve uma redução significativa do uso dessas cirurgias radicais.
  • Metastasectomia: Em casos selecionados de Estágio IV, a remoção cirúrgica de metástases isoladas pode ser considerada para alívio de sintomas ou controle da doença.

Tratamento Clínico (Sistêmico)

O tratamento clínico é a principal estratégia para o Estágio III (adjuvante, após a cirurgia) e o Estágio IV (tratamento primário). As opções mais recentes e eficazes incluem Imunoterapia e Terapia-Alvo, que revolucionaram o prognóstico da doença avançada.

Imunoterapia

A imunoterapia utiliza medicamentos para estimular o próprio sistema imunológico do paciente a reconhecer e destruir as células cancerosas.

  • Inibidores de Checkpoint Imunológico: São a principal classe de medicamentos no tratamento sistêmico do melanoma. Drogas como Pembrolizumabe e Nivolumabe (anti-PD-1) bloqueiam proteínas que o câncer usa para se esconder do sistema imunológico, liberando as células T para atacar o tumor.
  • Uso: Tratamento adjuvante (Estágios IIb, IIc e III) para reduzir o risco de recidiva e tratamento primário para o Estágio IV.

Terapia-Alvo

A terapia-alvo é utilizada quando o tumor apresenta mutações genéticas específicas, sendo a mais comum a mutação no gene BRAF (presente em cerca de metade dos melanomas).

  • Inibidores de BRAF e MEK: Para pacientes com melanoma positivo para mutação BRAF, a combinação de inibidores de BRAF (ex: dabrafenibe) e inibidores de MEK (ex: trametinibe) é altamente eficaz. Essa combinação bloqueia a via de sinalização que estimula o crescimento das células cancerosas mutadas.
  • Uso: Tratamento adjuvante (Estágio III) e tratamento primário para o Estágio IV com mutação BRAF.

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